quinta-feira, 25 de abril de 2013

O Olhar de Francis Baiardi sobre Presenças


O olhar sobre Presenças...

Primeira residência artística da obra de criação “Presenças”.

Para escrever impressões e sensações do que é vivido, sentido e imaginado no processo de construção da obra artística “Presenças” é necessário uma intensa profundidade ao interrogar-se, ao entender o significado de desnuda-se para mergulhar no seu íntimo, no que seja mais verdadeiro, se permitindo conhecer, além, do que você acha que já se conhece. Portanto, o início é a reflexão para responder tais indagações feitas para si mesmo e para os outros, devem ser do eu – corpo, e ouvir as respostas dos que estão presente no processo, como: o que faz cada um enquanto artista assumir a proposta do coreógrafo?  O porquê trocar experiências e vivências com um artista europeu, com uma cultura totalmente diferente da nossa? E o que essa experiência transformar ou contaminar o meu sentir, o nosso viver a dança? Qual o entendimento dos envolvidos do que seja identidade? Reflexões, questionamentos e respostas foram surgindo no decorrer do trabalho.   

Nesse primeiro contato, percebi que seria uma oportunidade de viver a dança de uma maneira profunda, de discutir um assunto tão atual e honesto. Perceber como uma temática tão forte pode fazer com que o intérprete mergulhe mais profundo na sua dança. Descobrir, me descobrir e me revelar foi preciso, para entregar, sentir e ser-eu, pois era esse o caminho que o diretor acreditava, extraindo do bailarino o que ele nem imagina mostrar.

Presenças interroga o intérprete de uma forma intrigante, porque é necessário buscar a integridade ao falar com o corpo, externalizando sentimentos e sensações, dando respostas intensas em alguns momentos, envolvendo toda a estrutura física e emocional do intérprete, sendo uma constante descoberta pessoal.

A procura pelo caminho que trilhamos ou queremos estar é um percurso que é proposto pelo diretor e coreógrafo, e, o que é interessante é ver como cada um carrega a sua história, memória e identidade, e a partir daí apresentar o material muito pessoal ao coreógrafo.

É muito bom perceber o envolvimento de cada pessoa que está na sala de dança, os bailarinos, os convidados observadores, o músico, a  artista que registra o audiovisual, enfim nesse momento todos fazem parte do espetáculo, todos se permitem envolver nessa construção artística.

Os dias trabalhados, os dias vividos em Presenças foram enriquecedores e únicos. A sensibilidade de como o Patrick conduz o trabalho, o respeito e entendimento de como se prepara o corpo no primeiro momento desse trabalho, o saber: escutar, sentir e o olhar para dentro são importantíssimos.  A preocupação de como o bailarino percebe o seu corpo no primeiro contato ao entrar na sala de dança, tudo é muito claro e cuidadoso.

Patrick Servius fala das seguintes informações de corpo:

Deixar o movimento fluir, a partir das conexões internas;

A sensibilização do bailarino para que possa responder aos estímulos dados no momento da criação;

 Os olhares externos influenciam no artista que pesquisa? Existi a troca de energia?

Todos que estão no processo se permitirem-se são afetados emocionalmente e psicologicamente;

A mudança do corpo (mente, espírito, matéria) em alguns aspectos, depois do dia trabalhado;

A reflexão de como sentir e dizer à dança que fazemos aqui...

Enfim, Patrick diz com o seu olhar:

Para estar “aqui” é preciso conhecer-se, é necessário saber qual o caminho e aonde você quer chegar.  Saber de sua história e assim poderá responder a si mesmo.

Presenças é mais intenso do que se pode imaginar...